Ariel pousou sob sua árvore preferida na sua planície preferida, num lugar chamado de “O Círculo dos Guardiões” pelos indígenas.
Estava de olhos fechados, sentindo apenas a brisa em seu rosto, enquanto aguardava o pôr do sol.
Sentia-se exausta, pois voou durante toda a manhã, a procura dos seus companheiros e da rota que seguiam.
Talvez tenha sido esquecida ou simplesmente não agüentou seguir os outros, pois se encontra velha e sem utilidades.
Durante sua vida aquela planície foi o encontro de todos os animais que por ali passavam, não só de pássaros como ela, mas, de répteis, felinos e outras espécies de mamíferos.
Olhou para cima e viu o sol brilhando entre as folhas da árvore, estava muito quente, mas logo o inverno chegaria e não poderia demorar em partir rumo ao sul.
Sempre viajou para lá, sempre. Mas perguntou-se durante toda a sua vida o que haveria no oeste? O oeste é aonde o sol se põe, portanto deve ser um lugar quente e agradável. E se não for? Mas agora também o que importa? Já que a velhice bate a sua porta?
Ariel pulou para um galho acima e comeu uma frutinha vermelha muito saborosa. Procurou por mais alimento e viu um pequeno arbusto cheio de frutos ao lado da árvore que se encontrava.
Desceu até o chão e começou a comer lentamente, saboreando aquelas frutas silvestres, até que ouviu uma voz:
- Oi Ariel. Como tem passado?
Virou-se rapidamente e sorriu ao ver seu velho amigo Corvo da qual tinha boas recordações.
- Eu não acredito, nunca imaginei que pudesse lhe encontrar novamente aqui. Tudo parece tão deserto e triste agora. E lembrar que fomos tão felizes neste lugar.
- Eu também não vinha aqui há muito tempo. Parece que o destino nos armou uma boa coincidência. Como tem passado?
- Bem. – disse Ariel cabisbaixa.
- Eu te conheço não é de hoje, e você não está bem não. O que aconteceu?
- Me sinto cansada e sem motivação, parece que a velhice está começando a me consumir. Na verdade não estou aqui porque quis, e sim porque me perdi do resto do grupo que segue para o sul, como em todos os verões.
- Eu sinto muito pelo o que aconteceu. Mas você não precisa desesperar-se pelo fato de estar velha. Eu também me sinto velho, aliás, fisicamente sou velho. Só que o bom humor e a sapiência sempre estão comigo por onde quer que eu vá. Entregar-se ao sofrimento é pedir pra morrer. Não se esqueça das palavras do Grande Pássaro: “Não use suas asas para simplesmente voar, mas sim para buscar o céu dos seus pensamentos”.
- Obrigado pelas boas palavras, mas o que farei agora? Não conseguirei voar para o sul pela fadiga que me consome. E outra, eu gostaria de ir mesmo era para o oeste.
- E por que não vai?
- Como? Se não consigo mais voar muito longe?
- Voe então até seu limite, quando se cansar, pare e descanse, até chegar lá.
- Eu não posso. E se houver um oceano para atravessar?
- Você nunca saberá se existe um oceano se não for verificar, sua tola. – disse uma voz dentro de uma toca.
- Essa voz me é familiar. – indagou surpreso Corvo.
- Essa voz só pode ser do Camaleão! – Disse Ariel.
- Até que você não está tão velha assim, cara amiga. Diga-me, o que o velho Camaleão aqui ainda pode fazer por você?
- Infelizmente nada. Gostaria de voar para o oeste, mas me é impossível.
- É, pelo jeito você continua sendo aquela garotinha medrosa de sempre. – disse Camaleão ridicularizando.
- Eu não sou medrosa.
- Então o que você é, corajosa? Se você fosse corajosa estaria indo para o oeste agora.
- Infelizmente Camaleão tem razão Ariel, tome uma atitude e parta para o céu dos seus pensamentos. – respondeu o sábio Corvo.
- Vá! Gostaria de ir contigo, mas não tenho asas para voar. Sou apenas um lento lagarto que gosta de tomar sol pela manhã e confundir os outros com meus truques.
- Eu vou contigo. Não ficarei aqui nesta terra esperando a morte chegar.
- Eu sei que podia contar com você, meu velho amigo. – disse chorando Ariel.
- Então, preparar para levantar vôo! – Gritou Camaleão.
Ariel e Corvo sorriram despediram-se do amigo réptil e saíram voando oeste adentro. Camaleão com lágrimas nos olhos os seguiu até sumirem no horizonte.
- Adeus meus amigos. Que o Grande Pássaro lhes proteja. E não esqueçam de me trazer um presente da terra do sol poente.
Flávio Cuervo
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