28 de fevereiro de 2011

Guerreiros do Tempo

Meu nome é Cirhanuu, sou um guerreiro nômade que viaja pelo universo, não possuo pátria, não tenho família e muito menos passado. Digamos que viajo pelo tempo, sempre na busca de mais e mais aventura e também para satisfazer meu ego. Nunca fui vencido, e nunca serei. Sou o melhor guerreiro do universo, ou melhor, de todas as dimensões.
Minhas armas mais eficazes foram altamente selecionadas por mim: possuo um canhão de próton de 30 milímetros que roubei num dos mundos da dimensão Ryluahzuit; um sensor cinético frontal implantado em meu cérebro pelo Dr. Cazn, meu fiel amigo do planeta Diwevum, na dimensão Hanramun, através deste sensor posso levitar objetos ou criaturas de até duzentos quilos em todas as direções, e confesso que esta é a mais eficaz das armas que possuo se não fosse este sensor já estaria morto em uma das batalhas que lutei; a terceira arma de grande impacto são as pulseiras de ZimpOit, um metal altamente raro, encontrado somente no satélite Zeioker, numa destas dimensões que existem, consegui as pulseiras quando lutei e matei Thakyrom, o grande guerreiro andróide, do planeta Lysykuy, as pulseiras de ZimpOit quando tocadas no solo, provocam abalos sísmicos, regulados pela força do impacto contra o terreno.
Em relação aos anos de minha vida, digamos que tenho o equivalente há 350 anos terráqueos, mas minhas feições ainda são jovens, sentindo-me cada dia mais forte e valente.
Já tive muitos amores, muitas noites de amor, talvez esta seja a melhor parte. Seduzir, dominar e só, já que nômades não possuem seu espaço para constituir família e confesso que nem gostaria de ter.
Batalhas foram muitas, batalhas é a minha vida. Lutar não é para qualquer um, lutar é mais ou menos assim:



Minhas pernas estavam exaustas e eu não conseguia mais raciocinar, aqueles dois tórridos sóis acima de nós dava-nos a impressão de que seríamos derretidos por eles.
Pedi à minha companheira que olhasse no seu sensor de pulso e ele mostrou água a 34 mékiz, ou seja, a 5 km ou 3,11 milhas terráqueas.
Depois de algum tempo avistamos ao longe um forte com enormes paredes e com uma torre ao fundo.
Quando os portões do forte se abriram surgiu a mais terrível cena que um homem possa ver, fiquei inerte por alguns minutos tentando controlar-me e fingir que aquilo não estava acontecendo, mas era inútil, pois o cheiro podre daqueles cadáveres penetrava em minhas narinas arrepiando-me dos pés à cabeça. Estavam todos pendurados em forcas, mas de cabeça para baixo com as mãos amarradas e as vísceras expostas e sem olhos nem cérebros.
Deviam estar ali há alguns dias, havia abutres de quatro patas pela cerca e as moscas a todo o momento tentavam nos tocar como se também fôssemos cadáveres.
Quem ou o quê poderia ter feito aquilo? No meio deste deserto, onde sobreviver é uma questão de honra?
Olhei para Muriáh, meu escudeiro e para Kietricci, aquela jovem guerreira Ghurg que me acompanhava há anos e vi que o medo da morte estava estampado em seus rostos.
Entramos na torre que ficava ao fundo, encontramos dois barris com água, bebi um bom gole e depois ordenei a eles que enchessem todos os cantis. Achamos também um barril de óleo combustível, espalhamos por todos os lados e tempos depois o forte era somente uma gigantesca chama no meio daquele tórrido inferno.
Fomos andando em direção aos lusco-fuscos solares, dando mais vida ainda àquelas chamas enormes e vermelhas.
Éramos nômades não podíamos parar, mas ao fim de todo dia me sentia inútil, pois eu não passava de um ladrão que renegava a tudo principalmente ao amor.
Andamos por mais meio hora e decidi por acamparmos ali mesmo, já que todos os lugares eram iguais, ou seja: areia, areia e areia. Pedi a Kietricci para pegar uma garrafa de bebida que havíamos achado no forte, enquanto observava Muriáh acendendo uma fogueira com madeiras que pegara no forte. Experimentei um pouco da bebida, o gosto era muito bom e inexplicável; dei mais uns três goles e passei para Kietricci que bebeu várias vezes do líquido azul escuro que fazia as pessoas se sentirem estranhas e livres. Muriáh olhou-me com espanto e não aceitou a bebida. Kietricci então começou a tirar a roupa e me agarrou pelo pescoço, lambendo-me por inteiro. Tirei também a minha roupa e começamos a fazer amor, sem limites e sem nos preocuparmos com que Muriáh pudesse pensar. Podíamos ficar por horas fazendo amor sem nos cansarmos. Era como se algo nos possuísse, nos aprisionando em nossos corpos e desejos.
Paramos com aquilo depois de um longo tempo e minha cabeça girava, mas não tão intensamente como antes.
Olhei Kietricci deitada ao chão, que dormia agora, calmamente. Mas, de repente começou a ser absorvida para dentro do solo arenoso, Muriáh tentava socorrê-la, mas era tarde demais, algo a havia sugado para o subsolo.
Quando senti que a areia borbulhava, percebi que não era mais uma alucinação da bebida azul e sim uma cruel realidade. Uma criatura que parecia uma toupeira ciclope de mãos brilhantes saiu da areia e atacou-me com um raio de energia lançada pelo seu único olho. Mais e mais criaturas foram saindo do chão. Foi quando notei que estava nu, dei um salto sobre minhas vestes e gritei para que Muriáh corresse, mas uma das criaturas ou segurou com suas mãos brilhantes e o afundou para dentro da areia.
Corri e me vesti em tempo recorde, coloquei as pulseiras de ZimpOit, mas lembrei-me que não poderia as usar, pelo fato do solo ser arenoso; peguei meu canhão e saí correndo em direção às criaturas. Explodi na primeira tentativa a cabeça de uma à minha esquerda. Levitei com extrema violência uma delas e a lancei contra outra à minha frente.
Atirei em uma com meu canhão e por azar errei o alvo, mas acertei dois que estavam logo atrás, em seguida mandei duas para o espaço e as estourei no ar.
De repente, uma toupeira surgiu da areia diante de mim e tocou minha cabeça com aquelas mãos imundas, parecia que meu crânio ia ser deflagrado. Tentava levantar as mãos, mas eram tão pesadas e a fraqueza insuportável. Mas não podia morrer agora, busquei forças e toquei com minhas pulseiras a face daquele vampiro, explodindo-a. Senti o bafo quente do último atrás de mim e me virei arremessando-o para longe.
Pronto, aqui estava eu vivo e ileso novamente, só que meus companheiros estavam mortos. E para onde eu iria?

Tinha que achar um portal que me levasse para outro planeta, um lugar onde me sentisse realmente bem. Mas estava sozinho, faminto e cheio de ódio. Maldita hora que vim para este lugar à procura das pedras de Mazakam, o Professor Cazm devia ter calculado de forma incorreta a hora da entrada no portal, pois não vejo sinal nenhum de civilização, a não ser aquele forte imundo e ou ciclopes vampiros.
O sensor não indicava água e eu estava sem dormir há muito tempo. Os sóis nasceriam em uma hora torrando meus miolos como se fossem ovos fritos.

Algum tempo depois caminhava com muita dificuldade; em minha boca não havia mais saliva e os abutres faziam vôos rasantes, estavam esperando apenas a minha morte.
Consegui caminhar até os pôr-dos-sóis, dormi antes do frio começar, a inversão térmica daquele deserto era um martírio aos meus sentidos e às defesas do meu corpo.
Acordei com os sóis batendo intensamente em meu rosto, vi que alguns abutres estavam em pé à cerca de uns dois metros terrestres. Fui me levantar, mas ao apoiar minhas pernas cai de joelhos e um breve filme de minha vida passou pela minha cabeça, comecei a chorar de desespero e fiz algo que nunca havia feito, orei:


Livra-me a alma, Deus do universo.
Pois meu corpo já se encontra fadigado
Neste deserto tórrido aonde vim parar.

Lanço-me à vossa piedade.
Pois me deitei sobre a areia que mais parece brasa
E já não tenho forças pra caminhar.

Incomodam-me as sombras dos abutres
Que como pestes se propagam
Imaginando-me carniça, cadáver ou coisa semelhante.

Que pecado cometi?
Que inferno me encontro?
Que cobaia sou eu?
Que sonho é esse?

Levanto-me e caminho
Lembro-me do frio noturno
E que a morte visite-me durante a noite.

Miragens a oeste
Imagens que me irritam
Transformando-me num otário esperançoso.

Se houvesse um oásis
Se houvesse tamareiras
Se houvesse uma fonte
Se houvesse...


Fim da primeira parte.


Flávio Cuervo

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