7 de fevereiro de 2011

A Tempestade

O mar estava calmo durante a manhã, mas nuvens negras aproximavam-se pelo sul significando mais uma tempestade de verão. Ester estava preocupada com Pedro, que tinha saído logo de manhãzinha para o mar, antes de ela acordar e até agora não havia regressado.
Olhou para o relógio, 12h44min, e seguiu em direção a sua bela casa, herança de seu pai. Tirou as sandálias cheias de areia na porta dos fundos, viu que o tapete não estava ali e seguiu silenciosamente até o quarto de Isabel, sua filha. Mas para sua surpresa não a encontrou. Sua cama estava arrumada, mas todos os outros móveis haviam sumido. Procurou desesperadamente pela casa tentando imaginar o que havia acontecido. Sua filhinha de cinco anos sumira junto com todas as coisas do seu quarto e Pedro nunca se atrasara tanto!
Olhou para fora e algumas gotas enormes começavam a molhar a janela. Quando chegou à cozinha e tudo também desaparecera. Foi para a praia e começou a correr para todos os lados gritando por Isabel e Pedro. Olhou para o oceano e a chuva já cobria todo o horizonte, raios riscavam o céu e trovões a ensurdeciam e inibiam seus sentidos.
Ester caiu de joelhos na areia, chorando e gritando por socorro. Quando olhou para trás seu espanto foi tanto que entrou em histeria quando viu sua casa desaparecer inacreditavelmente, diante de seus olhos. Como podia uma casa desaparecer no tempo e no espaço?
Ester se perguntava o que estava acontecendo, e que sonho era aquele?
Notou então que não só a casa estava desaparecendo, mas as árvores, as pedras, as nuvens de chuva, o sol, o mar... Dando lugar a escuridão.
Quando percebeu que o chão também desaparecia, fechou os olhos e ficou imóvel sem saber para onde ir. Então notou que flutuava em pleno universo, mas não havia estrelas, nem planetas, somente trevas.
Ficou um longo tempo, se é que ainda existia, tentando ver alguma coisa, mas não via nada, nem seu próprio corpo. Será que seu corpo também havia desaparecido? E se havia desaparecido quem era ela, afinal?
O que Ester não sabia é que nada existia e tudo havia desaparecido. O universo havia se expandido tanto que regressara novamente, ou seja, a grande explosão que originou tudo que vemos e que não vemos todas as dimensões que formam o infinito não existia.
Ester era apenas um pensamento de algo superior a tudo que existe, e este algo a havia poupado, o porquê não sei.
O pensamento, chamado de Ester, sentiu-se inflar, como se fosse um buraco-negro, ondas sonoras, vozes estranhas e conhecidas, energias de várias cores começaram a invadir, dando-lhe vida. Então viu seu corpo brilhar intensamente, num branco jamais visto. Sentiu vontade de estender as mãos e tudo que estava dentro de si começou a esvaziar-se por elas. Toda a energia que saía formava um globo brilhante e multicor, que cresceu, cresceu, e explodiu.
Logo depois da explosão, pontos brilhantes se espalharam por todos os confins do universo. Vida e luz tomaram conta de tudo.
Ester não mais existia, nem o pensamento de alguém, Ester deixara de ser limitada para estar em todos os lugares.



Flávio Cuervo

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