6 de agosto de 2011

Além do Sol Poente

Ariel pousou sob sua árvore preferida na sua planície preferida, num lugar chamado de “O Círculo dos Guardiões” pelos indígenas.
Estava de olhos fechados, sentindo apenas a brisa em seu rosto, enquanto aguardava o pôr do sol.
Sentia-se exausta, pois voou durante toda a manhã, a procura dos seus companheiros e da rota que seguiam.
Talvez tenha sido esquecida ou simplesmente não agüentou seguir os outros, pois se encontra velha e sem utilidades.
Durante sua vida aquela planície foi o encontro de todos os animais que por ali passavam, não só de pássaros como ela, mas, de répteis, felinos e outras espécies de mamíferos.
Olhou para cima e viu o sol brilhando entre as folhas da árvore, estava muito quente, mas logo o inverno chegaria e não poderia demorar em partir rumo ao sul.
Sempre viajou para lá, sempre. Mas perguntou-se durante toda a sua vida o que haveria no oeste? O oeste é aonde o sol se põe, portanto deve ser um lugar quente e agradável. E se não for? Mas agora também o que importa? Já que a velhice bate a sua porta?
Ariel pulou para um galho acima e comeu uma frutinha vermelha muito saborosa. Procurou por mais alimento e viu um pequeno arbusto cheio de frutos ao lado da árvore que se encontrava.
Desceu até o chão e começou a comer lentamente, saboreando aquelas frutas silvestres, até que ouviu uma voz:
- Oi Ariel. Como tem passado?
Virou-se rapidamente e sorriu ao ver seu velho amigo Corvo da qual tinha boas recordações.
- Eu não acredito, nunca imaginei que pudesse lhe encontrar novamente aqui. Tudo parece tão deserto e triste agora. E lembrar que fomos tão felizes neste lugar.
- Eu também não vinha aqui há muito tempo. Parece que o destino nos armou uma boa coincidência. Como tem passado?
- Bem. – disse Ariel cabisbaixa.
- Eu te conheço não é de hoje, e você não está bem não. O que aconteceu?
- Me sinto cansada e sem motivação, parece que a velhice está começando a me consumir. Na verdade não estou aqui porque quis, e sim porque me perdi do resto do grupo que segue para o sul, como em todos os verões.
- Eu sinto muito pelo o que aconteceu. Mas você não precisa desesperar-se pelo fato de estar velha. Eu também me sinto velho, aliás, fisicamente sou velho. Só que o bom humor e a sapiência sempre estão comigo por onde quer que eu vá. Entregar-se ao sofrimento é pedir pra morrer. Não se esqueça das palavras do Grande Pássaro: “Não use suas asas para simplesmente voar, mas sim para buscar o céu dos seus pensamentos”.
- Obrigado pelas boas palavras, mas o que farei agora? Não conseguirei voar para o sul pela fadiga que me consome. E outra, eu gostaria de ir mesmo era para o oeste.
- E por que não vai?
- Como? Se não consigo mais voar muito longe?
- Voe então até seu limite, quando se cansar, pare e descanse, até chegar lá.
- Eu não posso. E se houver um oceano para atravessar?
- Você nunca saberá se existe um oceano se não for verificar, sua tola. – disse uma voz dentro de uma toca.
- Essa voz me é familiar. – indagou surpreso Corvo.
- Essa voz só pode ser do Camaleão! – Disse Ariel.
- Até que você não está tão velha assim, cara amiga. Diga-me, o que o velho Camaleão aqui ainda pode fazer por você?
- Infelizmente nada. Gostaria de voar para o oeste, mas me é impossível.
- É, pelo jeito você continua sendo aquela garotinha medrosa de sempre. – disse Camaleão ridicularizando.
- Eu não sou medrosa.
- Então o que você é, corajosa? Se você fosse corajosa estaria indo para o oeste agora.
- Infelizmente Camaleão tem razão Ariel, tome uma atitude e parta para o céu dos seus pensamentos. – respondeu o sábio Corvo.
- Vá! Gostaria de ir contigo, mas não tenho asas para voar. Sou apenas um lento lagarto que gosta de tomar sol pela manhã e confundir os outros com meus truques.
- Eu vou contigo. Não ficarei aqui nesta terra esperando a morte chegar.
- Eu sei que podia contar com você, meu velho amigo. – disse chorando Ariel.
- Então, preparar para levantar vôo! – Gritou Camaleão.
Ariel e Corvo sorriram despediram-se do amigo réptil e saíram voando oeste adentro. Camaleão com lágrimas nos olhos os seguiu até sumirem no horizonte.
- Adeus meus amigos. Que o Grande Pássaro lhes proteja. E não esqueçam de me trazer um presente da terra do sol poente.


Flávio Cuervo

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