28 de setembro de 2011

A Dor do Poeta Morto


I

Havia uma coisa estranha
Uma sombra negra
Tão negra como a tristeza
Ao meu redor.

O poder de ouvir
De dar conselhos
De sorrir
E chorar quando estou sozinho.

Mas ultimamente nem chorar
Só sentir
A alma murchar.

Será que o mundo se fechou?
Ou fui eu que fechei-me para o mundo?

Será que perdi o poder
A sensação de olhar nos olhos
E sorrir...?

Que frio!
Que ser reativo
Reator nuclear
Que explode em lamúrias.

Sofrer. Chorar. “platonizar”
E morrer poeta.

II

Que fim é este velho amigo?
Que vida teve?
Que vida breve
Quais coisas sentiste?
Que os outros não sentiram
E não pôde explicar!

Filosofia que morre com a vida
Estarás com Deus?
Ou com o demônio?

A dor de sofrer
E ser acolhido pela sua maior amiga
O refúgio da noite
Dos uivos que dava
E das lágrimas prateadas
Sob a lua e a constelação de escorpião.

Sob o sabor do desejo
Das concubinas
Das bebidas
Dos cigarros
E das inspirações.

Inspirações que lhe deram o nome Poeta.
Da vida que lhe fez receptivo
Sentimentos inexplicáveis
Letras que só tu poderás explicar.

Mas como estás morto
Os que te odiaram
Tentarão desvendar
O labirinto das suas escrituras.

III

Quantas vezes vomitaste?
Quantas vezes fornicaste?
Quantas vezes caístes de joelhos
Perante a sociedade julgadora?
Moldada às escuras
Por um deus condenador e imbecil. Ordinário e vadio.

Morreste queimado belo poeta
Na praça principal
Sepultado num túmulo qualquer. Como querias.
E hoje vaga ao redor da árvore deusa
Olhando para o oeste e vendo discos-voadores.

Agora fantasma. Vulto. Saudade. Solidão.


Flávio Cuervo
09/07/2003

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