25 de abril de 2012

O Espelho

Vejo-te aproximando e calculo a distância entre nós, tento imaginar o que irá acontecer quando tocá-lo e quem nesta história vai morrer.
Visto negro e vejo um vulto branco, tão branco que chega a confundir meus sentidos.
Já posso ver sua face: branca, pálida e bela. Seu olhar é fascinante, sedutor e mortal. Sinto sua mente tentando me dominar, querendo destruir meu campo de força.
Ao parar diante de mim, olho em seus olhos e vejo meu reflexo neles, observo mais a fundo e consigo ver o reflexo do reflexo do meu rosto. Sinto também que você faz o mesmo e tenho a impressão de que me invejas.
Vou penetrando nos espelhos do seu olhar. E sinto que não existe um fim, que a imagem é universalmente infinita.
Levanto minhas mãos e toco seus ombros, tão concretos e reais. Como um reflexo de mim, fazes o mesmo e ao mesmo tempo nos tocamos. Agora sou o bem e o mal; o possível e o impossível; a vida e a morte; o real e o imaginário. Tudo num só ser, que agora somos nós.
Noto minha mente se apagar e por uma fração de segundos sinto que estamos flutuando no vácuo infinito. Você se encontra a minha frente e observo que tu tens a minha face e você sente que tenho a sua.
Sentimos que nesta história nunca vai haver um vencedor, não importa em que lado do espelho nos encontremos. Só se por acaso este espelho se quebrar, mas mesmo se quebrando, haverá outros para ver minha face refletida no infinito de nós dois.


Flávio Cuervo


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