O mar estava calmo durante a
manhã, mas nuvens negras aproximavam-se pelo sul, significando mais uma
tempestade de verão. Ester preocupava-se com Pedro, pois estava no mar desde manhã, antes de seu despertar; até agora não havia regressado.
Olhou
para o relógio, 12h44min, seguiu em direção à bela casa, herança de seu
pai. Tirou as sandálias cheias de areia na porta dos fundos, viu que o tapete
não estava ali e seguiu silenciosamente até o quarto de Isabel, sua filha. Mas
para sua surpresa não a encontrou. Sua cama sempre arrumada estava lá, mas todos os
outros móveis haviam sumido. Procurou desesperadamente pela casa tentando
imaginar o que havia acontecido. Sua filhinha de cinco anos sumira junto com
todas as coisas do seu quarto e Pedro nunca se atrasara tanto!
Olhou para fora e algumas
gotas enormes começavam a molhar a janela. Quando chegou na cozinha, tudo
também desaparecera. Foi para a praia e começou a correr para todos os lados
gritando por Isabel e Pedro. Olhou para o oceano e a chuva já cobria todo o
horizonte, raios riscavam o céu e trovões a ensurdeciam e inibiam seus
sentidos.
Ester caiu de joelhos na
areia, chorando e gritando por socorro. Quando olhou para trás seu espanto foi
tanto que entrou em histeria quando viu sua casa desaparecer
inacreditavelmente, diante de seus olhos. Como podia uma casa desaparecer no
tempo e no espaço?
Ester se perguntava o que
estava acontecendo, e que sonho era aquele?
Notou então que não só a
casa estava desaparecendo, mas as árvores, as pedras, as nuvens de chuva, o
sol, o mar... Dando lugar a escuridão.
Quando percebeu que o chão
também desaparecia, fechou os olhos e ficou imóvel sem saber para onde ir.
Então notou que flutuava em pleno universo, mas não havia estrelas, nem
planetas, somente trevas.
Ficou um longo tempo, se é
que ainda existia, tentando ver alguma coisa, mas não via nada, nem seu próprio
corpo. Será que seu corpo também havia desaparecido? E se havia desaparecido
quem era ela, afinal?
O que Ester não sabia é que
nada existia e tudo havia desaparecido. O universo havia se expandido tanto que
regressara novamente, ou seja, a grande explosão que originou tudo que vemos e
que não vemos, todas as dimensões que formam o infinito não existia.
Ester era apenas um
pensamento de algo superior a tudo que existe, e este algo a havia poupado, o
porquê não sei.
O
pensamento, chamado de Ester, sentiu-se inflar, como se fosse um buraco-negro,
ondas sonoras, vozes estranhas e conhecidas, energias de várias cores começaram
a invadir, dando-lhe vida. Então viu seu corpo brilhar intensamente, num branco
jamais visto. Sentiu vontade de estender as mãos e tudo que estava dentro de si
começou a esvaziar-se por elas. Toda a energia que saía formava um globo
brilhante e multicor, que cresceu, cresceu, e explodiu.
Logo
depois da explosão, pontos brilhantes se espalharam por todos os confins do
universo. Vida e luz tomaram conta de tudo.
Ester
não mais existia, nem o pensamento de alguém, Ester deixara de ser limitada
para estar em todos os lugares.
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