pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Éluard
Paul Éluard (pseudônimo de Eugène Emile Paul Grindel; Saint-Denis, 14 de dezembro de 1895 - Charenton-le-Pont, 18 de novembro de1952) foi um poeta francês, autor de poemas contra o nazismo que circularam clandestinamente durante a Segunda Guerra Mundial.
Participou no movimento dadaísta, foi um dos pilares do surrealismo, abrindo caminho para uma ação artística mais engajada, até filiar-se ao partido comunista francês. Tornou-se mundialmente conhecido como O Poeta da Liberdade.
É o mais lírico e considerado o mais bem dotado dos poetas surrealistas franceses.
Aos 16 anos, apos uma infância feliz, Paul Eluard contraiu tuberculose, o que o obrigou a interromper seus estudos. Na Suíça, no Sanatório de Davos, ele conhece uma jovem russa, Helena Diakonova, que ele chama de Gala. Casa-se com ela em 21 de fevereiro de 1917. Sua impetuosidade, seu espírito decidido, sua cultura impressionam o jovem Éluard, que encontra nela seu primeiro impulso de poesia amorosa. Juntos, eles lêem poemas de Gerard de Neval, Baudelaire e Apollinaire. Em 11 de maio de 1918, nasce sua filha Cecile.
Em 1918, quando a vitória é proclamada, Paul Éluard alia a plenitude de seu amor a um profundo questionamento do mundo: é o movimento Dada que vai disparar este processo, através do absurdo, da loucura, do non-sense.
Amigo íntimo de André Breton, Éluard participa de todas as manifestações dadaístas. Mas ele é o único do grupo a afirmar que a linguagem pode ter um propósito por ela mesma, enquanto os outros a consideram apenas como um “meio de destruição”.
O surrealismo, na seqüência, lhe dará os subsídios para sua criação. Muito bem aceito pelos críticos tradicionais da época, atualmente, sua vida confunde-se com o movimento surrealista.
A sua obra é extensa. Com Benjamin Péret, escreve "152 poèmes". Com André Breton, "No defeito do silêncio" e "Imaculada Concepção". Com Breton e René Char, "Trabalhos".
A partir de 1925 apóia a revolta dos Marroquinos. Em 1926, ele ingressa, junto com Aragon e Breton, no partido comunista francês. Nesta mesma época, publica "Capital da dor" (1926) e "Amor e Poesia" (1929). Em 1928, novamente doente, retorna para o sanatório com Gala, onde ela reencontra Salvador Dali e ele conhece Nusch.
Os anos de 1931 a 1935 são os mais felizes de vida de Éluard. Casado com Nusch, ela representa para ele a encarnação da mulher, companheira, cúmplice, sensual, sensível e fiel.
Expulso do partido comunista, ele continua sua luta pela revolução, por todas as revoluções.
Na Espanha, em 1936, ele se insurge contra o movimento franquista. No ano seguinte, o bombardeio de Guernica o inspira A escrever o poema “A Vitória de Guernica”. Durante estes dois anos terríveis para a Espanha, Éluard e Picasso estão sempre juntos. O poeta diz ao pintor: “Você segura a chama entre teus dedos e pinta como um incêndio”.
Em 1940, ele se instala, com Nusch, em Paris e se inscreve, clandestinamente, no partido comunista. Em janeiro de 1942, seu poema “Liberté” (Liberdade), composto por vinte e uma estrofes, é lançado por aviões ingleses sobre a França. Milhares de exemplares, contendo os versos mais famosos de Paul Éluard, chegam às mãos da Resistência francesa e fornecem um novo alento, na luta pela libertação da ocupação nazista.
Em 1943, com Jean Lescure, ele reúne textos de poetas da Resistência e publica “A Honra dos poetas”. Frente à opressão, os poetas cantam em coro a esperança e a liberdade. Esta é a primeira antologia de Éluard onde ele mostra seu desejo de abertura e sua vontade de se juntar.
Na Libertação, ele é festejado, junto com Louis Aragon, como o grande poeta da Resistência.
Sempre acompanhado por Nusch, ele participa de inúmeras conferencias. Mas, em 28 de novembro de 1946, ele recebe um telefonema com a notícia da morte repentina de Nusch, em conseqüência de uma congestão cerebral.
Com a ajuda dos amigos, lentamente, Éluard consegue recuperar o “duro desejo de durar” e ele encontra novas forças em seu amor pela humanidade. Em sua obra “Do horizonte de um homem ao horizonte de todos”, pode-se observar a caminho que ele percorreu, do sofrimento à esperança reencontrada.
Em abril de 1948, Paul Éluard e Picasso são convidados a participar do Congresso para a Paz em Wroclaw, Polônia. Em junho, Éluard publica os “Poemas Políticos”. No ano seguinte, participa dos trabalhos do Congresso em Paris como Conselheiro mondial da Paz. No mês de junho, passa alguns dias com os gregos entricheirados no Monte Grammos.
Depois vai para Budapeste, assitir às festas comemorativas do centenário da morte do poeta Sandor Petõfi, onde encontra Pablo Neruda. Em setembro, participa de mais um Congresso da Paz, no México. Conhece Dominique Lemor e se casa com ela em 1951.
Neste mesmo ano, publica “O Phoenix”, obra inteiramente dedicada à alegria reencontrada.
Em novembro de 1952, Paul Éluard morre do coração, em sua casa. Neste dia, segunfo Robert Sabatier, “o mundo inteiro estava de luto”.
“Liberdade”, de Paul Éluard
Mais do que um poema, este texto de Paul Éluard, para mim e muitos outros leitores, é uma espécie de oração:
Liberdade
Nos meus cadernos de escola
Sobre a carteira nas árvores
Sobre a neve sobre a areia
Grifo teu nome
Em toda página lida
Em toda página em branco
Sem papel na pedra ou cinza
Grifo teu nome
Sobre as gravuras douradas
Sobre as armas dos guerreiros
Sobre a coroa dos reis
Grifo teu nome
Na floresta e no deserto
Sobre os ninhos sobre as gestas
Nos ecos da minha infãncia
Grifo teu nome
Nas maravilhas das noites
No pão branco das jornadas
Nas estações de noivado
Grifo teu nome
Nos fiapos de azul-celeste
No tanque solar bolor
No lago lua vibrante
Grifo teu nome
Nos campos nos horizontes
Nas asas dos passarinhos
Sobre os moinhos de sombras
Grifo teu nome
Em cada sopro de aurora
Sobre o mar sobre os navios
Na insensatez das montanhas
Grifo teu nome
Nas nuvens soltas revoltas
Na tormenta transpirada
Na chuva insistente e boba
Grifo teu nome
Sobre as formas cintilantes
Nas campânulas de cores
Por sobre a verdade física
Grifo teu nome
Sobre as veredas despertas
Nos caminhos desdobrados
Sobre as praças transbordantes
Grifo teu nome
Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Nas casas cheias de gente
Grifo teu nome
No fruto cortado em dois
O do espelho e o do meu quarto
Na concha sem mim depois
Grifo teu nome
No meu cão terno e guloso
Mas sempre de orelha em pé
E patas destrambelhadas
Grifo teu nome
No trampolim da minha porta
Nos objetos familiares
Nas línguas do lume bento
Grifo teu nome
Em toda carne acordada
Na fronte dos meus amigos
Em cada mão que me afaga
Grifo teu nome
Na vidraça das surpresas
Sobre os lábios expectantes
Muito acima do silêncio
Grifo teu nome
Nos refúgios descobertos
Nos maus faróis desmontados
Nas paredes do meu tédio
Grifo teu nome
Sobre a ausência do desejo
Sobre a solidão desnuda
Nos descaminhos da morte
Grifo teu nome
No retorno da saúde
No risco que se correu
Na esperança sem lembrança
Grifo teu nome
E pelo poder de um nome
Começo a viver de fato
Nasci pra te conhecer
E te chamar
Liberdade
(Tradução de M. C. Ferreira)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário.
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.